entrevista

'Quem não segue as normas está tirando a liberdade dos outros', diz epidemiologista da prefeitura

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Foto: Wander Schlottfeldt (Diário)

Após a prefeitura de Santa Maria e o governo do Estado anunciarem medidas que aumentam restrições, suspendem aulas presenciais e limitam a circulação de pessoas na cidade, o médico epidemiologista da prefeitura, Marcos Lobato, concedeu entrevista ao programa Direto da Redação, da TV Diário, para detalhar informações sobre a situação da pandemia no município e explicar as decisões tomadas pelo Executivo. Para ele, o aumento no número de casos, internações e mortes se dá como reflexo do descuido das pessoas com protocolos, além de festas, viagens e aglomerações desde o final do ano passado.

Depois de noite na fila, profissionais liberais da saúde começam a ser vacinados em Santa Maria

Diário de Santa Maria - O senhor acredita que as novas regras instituídas nos decretos podem diminuir a circulação de pessoas e número de hospitalizações na cidade?
Marcos Lobato - Sem dúvidas, será reduzida. As medidas do decreto estadual ajudam. Mas não basta isso. Temos que levar em consideração outra coisa também: a ocupação de leitos de agora é consequência de pessoas que se contaminaram há semanas atrás. Viagens indevidas, aglomerações de pessoas. Não penso que devamos continuar dessa forma, mas nesse momento adiar as aulas ajuda para que, no futuro, tenhamos uma diminuição de casos e ocupação de leitos menor. E, ainda, dá tempo para que pessoas que ainda estão circulando com o vírus ativo, deixem de estar contaminadas.

Diário - Se o senhor acha que não bastam somente as restrições do estado e município, que outras soluções podem ser buscadas?
Lobato - Essa solução de reduzir outras atividades que não são essenciais é importante. Talvez nesse momento seja o mais necessário até para permitir que outras atividades retornem. É o momento de pensar em compensar nessa área para que possamos imaginar o retorno das aulas. Terão momentos, como agora, em que teremos que ser mais rígidos, fechar áreas para que possamos controlar a situação. Enquanto não temos uma vacina em longa escala, seguiremos passando por essas situações de abre e fecha.

Diário - Já estamos enfrentando as consequências das aglomerações do Carnaval?
Lobato - O Carnaval ainda não teve toda a repercussão que deve ter. Mas notamos que o aumento de número de casos e óbitos se dá desde o início do mês de janeiro. Agora, em fevereiro, temos uma das piores situações sobre ocupações de leitos. Só que ainda não é resultado totalmente do Carnaval. Temos que entender que há, em média, um período de 15 dias de incubação e transmissão do vírus. Esse período pode durar mais tempo, apesar de menos comum. Então, fazendo essa conta, ainda não fechou exatamente uma semana do feriadão. Logo, essas pessoas começam a transmitir a doença agora. Mas a gente já tem consequências das viagens e festas do final do ano. Infelizmente, algumas pessoas, em nome de sua "liberdade", estão prendendo outras pessoas. Estamos vendo uma falta de solidariedade e responsabilidade com outras pessoas. Quem não segue as normas, não usa máscara, faz aglomerações, está tirando a liberdade de outras pessoas para ter uma vida menos restritiva.

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Diário - A partir dessas medidas, em quanto tempo poderemos observar uma retomada de atividades presenciais?
Lobato - É difícil dizer isso. Há alguns locais que não poderão retornar. Depende da estrutura e da forma que voltar. Precisamos avaliar quais escolas estão com capacidade de receber os alunos e quais não estão. As pessoas criticam essa medida, mas o maior problema, hoje, são as pessoas que decidiram não cuidar do coletivo. E quem está pagando por isso são os demais.

Diário - As aglomerações e falta de cuidados são o que mais geram essa falta de controle da pandemia?
Lobato - Nenhuma atitude que tomamos, seja nós ou os governantes, tem um resultado imediato. Infelizmente não é assim. Uma ação de hoje tem repercussão semanas à frente. Por isso é que agora temos que pensar em fazer essas intervenções. O atraso no retorno de aulas presenciais ajuda, sem dúvida. E a suspensão de outras atividades também vai ajudar para o retorno dessas aulas. Mas outros setores têm que colaborar. Para retornar as aulas, quem faz festas, vai em bares, precisa parar de ir.

Diário - Já que se quer a volta às aulas presenciais, por que não incluir professores na lista de vacinação?
Lobato - Se tivéssemos vacina suficiente, sim. Mas não temos. A recomendação é sempre os profissionais de saúde para que possamos cuidar das pessoas. Se deixássemos de vaciná-los, além de deixarmos elas expostas, são pessoas que acabam disseminando mais. Acredito, sim, que professores devem ser vacinados. Mas o problema do Brasil é a falta de vacinas. É a primeira vez que vejo uma situação caótica da falta de vacinas. Vários grupos são interessados e tem legitimidade para cobrar, só que é preciso entender a falta de vacinas. Não adianta mudarmos as prioridades. Vamos seguir o que sempre fizemos no SUS e no que temos de experiência em vacinação.

Diário - Alguns especialistas e técnicos da área da saúde querem volta às aulas e acreditam ser seguro. O que o senhor pensa?
Lobato - A pessoas podem ter suas opiniões, os técnicos principalmente. Sou a favor da volta às aulas. No entanto, precisamos aguardar algumas semanas. Toda a situação de volta às atividades escolares geram uma grande circulação de pessoas, como professores, alunos, transporte. Então, nesse momento foi necessário, embasado na experiência que se tem em vários lugares do mundo. Portanto temos que nos preparar para um retorno o quanto antes. Os estudantes estão pagando um preço alto por conta de pessoas que preferem ter o seu lazer em festas, em bares, que não são a prioridade de agora.

Diário - Com a chegada de novas variantes da Covid-19, os cuidados permanecem os mesmos ou há alguma recomendação nova?
Lobato - Todos os cuidados devem ser mantidos. Usar máscara, fazer higienização, se manter com distanciamento e em ambientes arejados. Ventilar o ar dos ambientes, trocar o ar, é importante. Inclusive para pacientes que estão infectados para que reduzam sua carga viral. Hoje, uma das coisas mais importantes é pensar nessa ventilação.

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